A CPI da Fosfoetanolamina da Assembleia Legislativa ouviu na quarta-feira, 14/03, o dr. Paulo Hoff, diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Icesp. Como tem ocorridos em sessões passadas, a questão da distribuição da dose e o número de pacientes por coorte que usaram a substância foram os temas mais discutidos.
O relator da CPI da Fosfo, deputado Ricardo Madalena, logo no início dos trabalhos indagou ao dr. Paulo Hoff se a pesquisa pode ter sido prejudicada devido ao número de pacientes por coorte (assim chamado cada grupo de paciente por tipo de câncer), já que apenas duas delas de um total de dez contaram com 21 e 14 pacientes (é norma internacional que o número por coorte não pode ser menor que 14). Em seguida, Madalena quis saber também sobre a ausência do estudo da farmacocinética, que é fundamental neste caso da pesquisa. (que determina a dosagem, a distribuição da substância e revela a sua absorção no organismo), chamando a atenção para o fato do Icesp não ter respeitado a distribuição de três doses diárias intercaladas, que deveriam ser ministradas ao paciente, em vez disso de uma dose única ao dia.
Segundo o dr. Hoff, as coortes não foram todas preenchidas pela dificuldade que o Icesp teve em encontrar pacientes que estivessem em uma condição terminal. Afirmou que o número alto de pacientes de colo retal (21) se deve ao fato de esse tipo de câncer ser hoje o de maior caso no Icesp, chegando a 35% do total de pessoas que lutam contra a doença. A coorte de câncer no fígado contou apenas com um único paciente (veja abaixo o número de pacientes por coorte).
O relator Madalena reforçou o argumento, lembrando ao dr. Hoff sobre o equivoco na distribuição da substância admitido pelo próprio Icesp, documentado por meio de memorando. Em resposta, o dr. Hoff afirmou que tinha conhecimento do memorando do Icesp que alertava sobre a forma como deveria ser ministrada a droga – três vezes ao dia e não em dose única -, mas não soube responder sobre a demora em tomar tal providência, pois a nova conduta demorou seis meses para ser corrigida (ver memorando do Icesp em anexo)
Especificamente sobre os estudos da farmacocinética, em uma reunião ocorrida em 25/04/2017 na Assembleia Legislativa, o dr. Hoff, de forma clara declarou que “o que determina o intervalo (das doses que o paciente deve ingerir por dia) é a farmacocinética do produto. O resto, infelizmente, é achismo”. Os testes no Icesp da fosfoetanolamina que tiveram início em julho de 2016 até este momento não contam com esse estudo.
Outro ponto que chamou a atenção foi pedido de mais 72 mil cápsulas (veja foto) de fosfoetanolamina, logo após o anúncio, em 31 de março de 2017, de que o Icesp não convocaria novos pacientes para testes, e ainda assim mais 3 pedidos da substância foram feitos. As cápsulas perderam sua validade e o motivo alegado pelo dr. Hoff foi que a máquina da Furp, que faz o encapsulamento da substância, trabalha com uma quantia em que não seria possível uma produção menor, necessária para apenas dois pacientes que continuavam em testes. O deputando mencionou o descaso, mostrando a falta de planejamento e pouco caso com o recurso público. O dr. Paulo Hoff culpou também o laboratório PDT, que produziu a substância com apenas seis meses de validade.
A CPI da Fosfoetanolamina investiga se os procedimentos realizados pelo Icesp com a substância seguiram o protocolo e as normas da Anvisa, quanto o governo de São Paulo empregou em recursos e se estes foram bem empregados. A CPI tem em sua relatoria o deputado estadual Ricardo Madalena e é presidida pelo deputado Roberto Massafera. Ao final, o relator pediu ao presidente Massafera que o secretário de Saúde do Estado, David Uip, seja convidado para a próxima reunião, que acontece dia 21 de março.
NÚMERO DE PACIENTES POR COORTE
Cabeça e Pescoço – 3
Pulmão – 3
Colo Retal – 21
Mama – 12
Colo Uterino – 7
Próstata – 7
Melanoma – 14
Pâncreas – 2
Estômago – 3
Fígado – 1
Memorando do Icesp sobre equívoco na distribuição da dose ao paciente.